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Opinião | União Brasil e ACM Neto abraçam discurso da anistia, mas deixam Bolsonaro para trás

Passou quase despercebida a movimentação da federação União Progressista — formada pelo União Brasil e Progressistas — ao defender a anistia para os envolvidos nos atos golpistas contra a democracia. O gesto veio em meio ao julgamento no STF contra o núcleo central da tentativa de golpe e, curiosamente, não foi amplamente divulgado pelos próprios partidos. A leitura política é clara: as legendas enterraram Jair Bolsonaro como opção eleitoral e tentam, ao mesmo tempo, evitar que ele as arraste para o mesmo destino.

Ainda que o projeto de anistia avance na Câmara dos Deputados, cenário favorecido por um presidente acuado diante da pressão bolsonarista, a proposta dificilmente terá futuro no Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), já sinalizou resistência. Além disso, não há consenso político nem base jurídica que sustente a constitucionalidade de uma medida desse tipo. Anistiar crimes contra o Estado democrático de direito seria, em essência, ferir a própria democracia — algo que dificilmente passaria pelo crivo do STF.

No entanto, ao mesmo tempo em que descartam Bolsonaro como candidato viável, União Brasil e Progressistas adotam parte de sua agenda. No caso do PP, isso já era esperado, principalmente pela proximidade de figuras como Ciro Nogueira com o ex-presidente. Já o União Brasil, que buscava manter certa distância formal do bolsonarismo, dá um passo no sentido oposto e assume uma ligação que até então tentava disfarçar.

Na Bahia, esse movimento tem peso adicional. Os petistas sempre acusaram ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e atual vice-presidente nacional do União Brasil, de ser um “bolsonarista enrustido”. Com a adesão da federação à pauta da anistia, fica mais difícil negar essa aproximação. Neto, que se esforçou para marcar distância de Bolsonaro em 2022, agora se vê inevitavelmente associado ao grupo.

Outro efeito é o reposicionamento da direita baiana. A pauta da anistia aproxima ACM Neto de João Roma e do PL no estado, facilitando a construção de uma frente única contra o PT em 2026. Assim, Neto deve herdar parte da base bolsonarista sem precisar assumir Bolsonaro diretamente como aliado.

No fim das contas, Bolsonaro deixou de ser uma opção eleitoral viável, mas segue como uma figura que a direita não consegue descartar totalmente. União Brasil e Progressistas entenderam isso: afastam o ex-presidente como candidato, mas absorvem parte de sua narrativa para manter o apoio de seu eleitorado.

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