Gilberto Gil e seus familiares surpreenderam as mais de 5 mil pessoas que lotaram a Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA) neste sábado (1º). Ivete Sangalo e Daniela Mercury participaram do segundo dia do espetáculo “Nós, a Gente” em Salvador, e celebraram a música e o amor pela Bahia ao lado da família Gil.
Os 18 artistas representantes da família tinham acabado de entoar “Vamos Fugir” quando as renomadas cantoras baianas entraram de surpresa, já no bis, para cantar “Toda Menina Baiana”. O público foi ao delírio.
“Eu me sinto parte dessa família. Conheço eles há tantos anos… E essa turnê é a coisa mais linda, bem a cara deles: tudo junto e embolado. A gente é um pouco deles também. Quando um artista divide suas composições, suas causas, suas histórias, quando desenvolve um DNA desses, tem que mostrar. E é do mundo. As canções são nossas também”, disse Ivete em conversa com o Alô Alô Bahia antes de subir ao palco. Ela estava acompanhada do marido, o nutricionista Daniel Cady, e do filho, Marcelo Sangalo Cady.
“Eu sou da família um pouco também, né? São tanto anos de carreira. Eu fui backing vocal de Gil em 1989 e desde então já nos encontramos muitas vezes. Seja em show ou na vida pessoal, ele é quem manda! Eu sou mais uma filha”, afirmou Daniela Mercury. A Rainha do Axé foi ao espetáculo junto com a esposa, Malu Verçosa, e das filhas.
Daniela lembra que já gravou a música, e ressalta que é uma canção que mexe com todas as mulheres. “Todas nós nos identificamos. Mulheres baianas, meninas baianas… ter a chance de cantá-la é incorporar essa personagem, essa figura cantada por Gil, inventada por Gil, que na verdade é do imaginário mesmo porque Gil é como Jorge Amado. Uma Gabriela é toda menina baiana. Uma Gabriela, uma Tieta”, afirmou.
“E sempre que eu canto, eu penso: quem será? Realmente cabem tantas mulheres, acho que todas nós cabemos nessa figura dessa meninas ‘que Deus deu’, ‘que Deus dá’… que Deus entendeu de dar a primazia, primeira missa, primeiro índio abatido também. É uma música política ao mesmo tempo… Eu amo tanto, desde sempre”, completou.
As artistas assistiram a maior parte do show da plateia. Ivete cantarolou várias músicas e até comeu pipoca. Daniela não tirou o sorriso do rosto. Ambas fizeram várias fotos com o público que as reconhecia.
Quando a participação delas terminou, os músicos agradeceram, e foram embora ao som de “Patuscada de Gandhi”. “Obrigada, Bahia”, celebrou Gil.
Show memorável
No palco e na plateia, muita música e emoção. Era como se todos fossem parte da família Gil.
Além de Ivete e Daniela, mais alguns famosos estiveram presentes, entre eles Fernanda Paes Leme, Renata Lo Prete, Vitão e Gominho.
Com duas noites de ingressos esgotados, o esperado show da turnê “Nós, a Gente” foi apresentado na capital baiana em sua versão completa, depois de percorrer a Europa em 2022 e algumas capitais do país este ano, como Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP).
Além de celebrarem no palco a família – com as várias individualidades, histórias que se costuram e gerações – Gil e os seus também fizeram uma festa daquelas no reencontro com a “grande família baiana”.
“Eu sou meio parente de todo mundo aqui, mais do que de outros lugares do Brasil e do mundo”, comentou Gil em entrevista ao Alô Alô Bahia.
O momento que sintetiza o espírito do espetáculo é quanto Gil cantou “Babá Alapalá”, que fala sobre ancestralidade. Nesta hora, passam pelo telão do fundo do palco imagens do álbum da família.
“Eu sou filho de Xangô. Pertenço, portanto, a essa linhagem toda que acabei de descrever. Um amigo meu escreveu uma coisa minha esses dias… disse que, em resumo, eu acabo sendo um ancestral contemporâneo. Sendo assim, quando me for, estarei na linhagem do povo iorubá, baiano, brasileiro… e um dos traços dos ancestrais é a prole”, disse Gil após entoar os versos da canção. Em seguida, ele apresentou toda a família no palco.
Repertório
Assim como na primeira noite, o público da Concha Acústica dançou e cantou durante todo o espetáculo deste sábado. As músicas “Barato Total”, “Serafim”, e “Avisa Lá”, do Olodum, deram início ao show, que durou cerca de duas horas.
O repertório contou ainda com sucessos acumulados ao longo dos quase 60 anos de carreira do já imortal Gil, como “Palco”, “Tempo Rei” e “Vamos Fugir”, além de canções dos repertórios da banda Gilsons – formada por José, João e Fran – e de Preta Gil.
Reunião de família
Seu Gilberto mais uma vez fez história no palco da Concha Acústica e capitaneou um verdadeiro espetáculo ao lado de mais 17 representantes da família.
Participaram da apresentação os filhos, Bem e José; as filhas, Preta, Nara e Bela; os netos João, José e Bento; a neta Flor; e a nora Mariá Pinkusfeld.
Completaram a formação do show os netos Pedro, Gabriel e Lucas na percussão, além dos pequenos Sereno, Nino, Dom e Sol de Maria, bisneta de Gil, que deram um show à parte.
A família Gil entregou uma verdadeira celebração da vida de um dos maiores artista deste país.
A apresentação é recheada de momentos especiais: a neta Flor cantou “Garota de Ipanema” com o avô; a filha Nara entoou “Amor Até o Fim”, música que o pai fez para a mãe; a também filha Bela Gil participou dançando em “Andar com Fé”; e o neto Sereno levou toda fofura e simpatia para o palco.
Emoção
Preta Gil, que enfrenta um tratamento contra o câncer e uma separação, foi mais uma vez ovacionada pelo público baiano.
“Eu sou Preta Maria, uma mulher negra, gorda, bissexual, estou me tratando de um câncer, vou me curar, eu estou solteira e eu sou filha do imortal Gilberto Gil”, declarou novamente a cantora, que recebeu o apoio da plateia.
Autorizada pelos médicos para fazer parte da turnê que ela idealizou, a artista cantou “Sinais de Fogo” e “Vá Se Benzer”, que dedicou à madrinha Gal Gosta.
Homenagens
A apresentação da família Gil também homenageou nos dois dias grandes amigas do artista, como Gal Costa, que morreu em novembro de 2022. O cantor trouxe “Esotérico”, que fez parte do repertório dos Doces Bárbaros, icônico grupo dos anos de 1970 formado por Gal, Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Rita Lee foi homenageada com “De Leve”, versão de “Get Back”, dos Beatles, que Gil e ela fizeram juntos para o show “Refestança”, que os uniu em 1977, e com “Ovelha Negra”, entoada pelas mulheres da banda.
Ao lado do neto Bento, Gil homenageou João Gilberto, criador da Bossa Nova que morreu em 2019 aos 88 anos.
O veterano batucou no tamborim enquanto o neto tocou violão na versão de “O Pato”.
Bolsonaro inelegível
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que condenou e tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível pelo período de oito anos na última sexta-feira (30) também repercutiu na segunda noite da turnê “Nós, a Gente” em Salvador.
O público mais uma vez entoou “Inelegível, inelegível”, fazendo alusão à decisão do TSE. “São os dizeres de hoje em dia”, comentou o cantor baiano, com um risinho no rosto.