Paulo Serdan, 55, presidente da Mancha Verde, foi pego de surpresa quando advogados o procuraram em um dia de julho. Eram representantes da família Ferreira — a família de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita.
No Carnaval de 2023, a agremiação paulista, atual campeã, vai levar à avenida o desfile “Oxente: sou xaxado, sou Nordeste, sou Brasil”, que revisita tradições do sertão nordestino, onde nasceu o xaxado, dança do cangaço na qual a espingarda marcava o ritmo da pisada — o nome vem do barulho das alpercatas, o xa-xa, na areia. O que a Mancha Verde não sabia é que a única filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita, 90, está viva.
A conversa com os advogados foi amigável, visto que o desfile tem caráter cultural, não comercial. “É nossa família. Nós só queremos ser protagonistas também”, diz a arquiteta Gleuse Ferreira Nunes de Oliveira, 41, bisneta do casal que liderou o cangaço.
Gleuse tem viajado de Aracaju, onde mora, para São Paulo. Num domingo de novembro, ela chegou ao barracão da Mancha Verde no Bom Retiro carregando Bento, um chihuahua enfeitado com lenço no pescoço. “Muita gente não sabe que existimos. Ou pensam que a gente tá lá no sertão, no meio do mato”, conta, enquanto observa a estrutura de um Lampião gigante. “É esse aqui o meu?”, pergunta — a convite da escola, a arquiteta será responsável pela decoração de um dos carros.